Ele se esqueceu novamente de limpar o calçado antes de entrar, deixando aquelas pegadas de barro no chão encerado que acabei de lavar, depois de duas horas de trabalho árduo!

Para uns, trata-se de uma mera disciplina de paciência. Para outros, um desafio sobre-humano em conter a reação instintiva. Independente de como você encara a situação, a resposta exige inteligência emocional. Mas afinal, o que é preciso para desenvolvê-la?

Pensando nesta dúvida comum, exploraremos três segredos para evoluir nos principais aspectos desta habilidade. Vamos lá?

Segredo 1: Entenda suas emoções antes de reagir

Conversando com um colega sobre abrir um novo negócio, de repente ele lhe pergunta sobre seu cachorro. Você responde que o animal adoeceu, mas não é nada grave. Voltando a falar sobre o empreendimento, você já não sente a mesma motivação que antes.

Este tipo de situação ocorre diversas vezes ao dia, tudo de forma inconsciente e automática. Graças a três regiões específicas do córtex cerebral (pré-frontal, parietal-temporal-occipital e límbica), usamos mais da metade de nossos recursos mentais para processar e simular respostas às experiências.

O fato de falar sobre o cachorro doente cria um pano de fundo melancólico que afetará suas próximas decisões e comportamento. Apesar de você racionalmente entender que não há relação com o empreendimento, suas emoções terão influência.

Felizmente a tratativa é mais simples do que parece. Primeiramente é necessário estar vigilante sobre mudanças de humor. Ao perceber, para eliminar a emoção negativa, basta reconhecer conscientemente o fato causador e, se possível, traçar um plano para resolver. Tendo feito este processo, seu cérebro trabalhará de forma inconsciente para eliminar o incômodo.

Por exemplo, imagine que você esteja trabalhando e vem à cabeça aquela pós-graduação que se prontificou a iniciar no semestre passado, mas até o momento nada foi feito. Naturalmente isto causará uma sensação de fracasso, o que afetará suas ações e pensamentos.

O primeiro a fazer é reconhecer que você está sob influência desta emoção, e a causa é a falta de iniciativa sobre a pós. Fingir que não é nada ou ficar se lamentando não resolverá o problema. Então pense em qual seria a primeira ação para sair da inércia – talvez verificar instituições em sua área de interesse – e escreva na agenda para ser feito no dia seguinte.

A partir desta ação racional, seu sistema límbico – controlador das emoções – começará a remover as sensações negativas, pois entenderá que aquilo não representa mais uma ameaça.

Segredo 2: Trate a raiva com o XYZ

A raiva é sem dúvida a emoção mais poderosa e difícil de controlar. Isto porque ela se alimenta de si própria, gerando um efeito cascata. Os gatilhos são geralmente ameaças físicas diretas ou simbólicas (tratamento injusto ou grosseiro, insulto ou humilhação, frustração em expectativas).

Não importando causa ou efeito, esta reação visa a autopreservação. Quando se experiencia algo não identificado claramente, o corpo interpreta como um risco em potencial. Em uma fração de segundos, o cérebro associa aquelas poucas informações com a experiência anterior mais próxima possível, e geralmente negativa. Antes de ser processada racionalmente, o centro emocional (Amígdalas corticais) assume o controle motor e sensorial do corpo, provendo uma resposta vigorosa de luta ou fuga. É o chamado sequestro emocional.

Infelizmente há frustração na maioria destas reações, pois ao ser processada de forma racional, percebemos exagero na resposta impulsiva. É impossível suprimir tais estímulos, pois são funções autônomas. No entanto, pode-se adquirir padrões de reconhecimento, atenuando assim o efeito.

Uma maneira de atenuar é a arte do falar não defensivo. Esta técnica centra-se na manutenção do que se diz numa queixa específica, sem desandar para o ataque pessoal. O psicólogo Haim Ginott recomendava que a melhor fórmula para uma queixa é “XYZ”: “Quando você fez X, me fez sentir Y e eu preferia que você, em vez disso, fizesse Z.

Por exemplo: “Quando você não me ligou para dizer que ia chegar atrasado para nosso jantar, me senti menosprezada e zangada. Eu gostaria que você me dissesse que vai se atrasar” em vez de “você é um sacana irresponsável, só pensa em si mesmo”, que é como muitas vezes acontece nas brigas entre os casais.

Em resumo, a comunicação aberta não contém provocações, ameaças ou insultos. Também não dá lugar às inúmeras formas defensivas – desculpas, negação de responsabilidade, contra-ataque com crítica e coisas assim.

Segredo 3: Use empatia para calibrar sua resposta

Era tarde da noite e você lia confortavelmente seu livro favorito. De repente, o telefone toca. Era uma amiga ligando desesperada porque havia perdido o emprego. “Não se preocupe, você vai achar outro em breve”, você diz, “além disso, você sabe que a empresa passava por problemas financeiros, não esperava por isso? Por que está tão chateada agora?” Um silêncio cortante do outro lado da linha, seguido de um sinal de término de chamada.

Este é um típico exemplo de como você não demonstrou qualquer tipo de empatia. Porém, você pensou que estava a confortando. O que deu errado? Sem primeiro empatizar e ouvir suas preocupações, você provavelmente prejudicou mais do que ajudou.

Afinal, o que é empatia? É a habilidade de entender pensamentos e sentimentos do outro numa determinada situação pelo ponto de vista dele, ao invés do seu. O que difere em relação a simpatia é que, no caso da empatia, é mantida uma distância emocional. Significa entender, mas não necessariamente concordar.

Outra forma de entender a diferença, é considerar que simpatia é como se você visse alguém em um buraco profundo, e você permanecesse em cima, conversando com ela de lá e a confortando. Em contrapartida, a empatia é como se você descesse no buraco e se sentasse ao lado dela, se permitindo estar vulnerável para se conectar sinceramente com ela. O sujeito simpático tentará confortar a situação da outra pessoa ao invés de entender sua dor. O empático reconhecerá a dificuldade dela sem minimizar a situação.

Ao iniciar uma conversa, você inconscientemente se prepara para contra-argumentar baseado em seus princípios. Ao invés de criar este escudo mental, prepare-se para resistir ao impulso de interromper. Por melhor que sejam seus argumentos, não caia na tentação de expô-los.

Ouça atentamente até o final, e tente imaginar o que a motiva sustentar suas colocações. Use o raciocínio de fundo para trabalhar como um detetive, não como um juiz.


Inteligência emocional é um tema abrangente e para aprimorar, como qualquer disciplina, requer treino. O mais importante é entender que nossos julgamentos requerem sempre duas variáveis: racional e emocional. Entender o efeito destas em cada decisão ou reação fará de você uma pessoa melhor.

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